Crassum Cor.



E não pude externar nada além de um choro doído na frente de minha mãe. Não pude dizer nada, não fui capaz. Mas ela lia meus olhos e cada gesto meu de rancor, e me perguntava: O que te falta, que você não é mais feliz?
Quem pôs a alma nessa jaula fui eu. Aprisionei o sorriso, a satisfação nas coisas simples, virei gente complicada, e gente complicada se frustra, se fere, tem tudo, mas não dá valor a nada. Me perdi. Precisava voltar, e soltar as amarras naquele trecho do trajeto, naquele ponto da ferida onde ninguém podia interferir, só eu e minha alma.
Eu virei uma alma sem cor. Um sorriso sem par. E cada instante de satisfação virou só uma reticência a mais… Quando nada se torna o suficiente, é somente porque uma única coisa essencial está faltando. Me faltou amor pela vida. Me faltou perder o medo de por remédio nas feridas. Me faltou libertar.
Fiquei catando os cacos de uma ressaca insone. Eu mesma me compliquei, me viciei, acinzentei-me, e tudo girava ao redor do meu semblante. O bem-estar logo passava, o sorriso logo fechava, fui incompleta, e tornei-me inútil. Respirei rancores, e me sufoquei.
Haverá um momento na vida em que Deus vai parar, estender as mãos vazias, e em expressão de lamento, olhar pra você e dizer: Filho, o que te falta? Que vazio é esse entre mim e você?
Tudo um dia se bifurca nesse caminho. Ou tudo fica simples, ou tudo se complica. Ou se vive por inteiro, ou se tenta caminhar sozinho. A auto-sufuciência se estrepa em insatisfação. E a independência é maquiagem pra solidão.
Eu cansei de mim. Eu quebrei as grades. Eu larguei o orgulho. Eu encontrei paz.
A felicidade encontra-se em ver Deus nos detalhes. E por prezar cada um deles, sentir-se completo. Fora isso, sou cheia de fé, nada mais.

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